O REFLEXO DO BRINCAR E DA FANTASIA NA CONSTRUÇÃO DE SENTIDO DOS ENUNCIADOS INFANTIS

Resumo

O objetivo deste trabalho é contribuir para a compreensão de aspectos relacionados ao modo como os enunciados infantis significam, examinando o papel que o brincar e a fantasia neles exercem. Para tanto, fundamentamo-nos nas contribuições da Teoria das Operações Enunciativas em interface com as das teorias da Psicologia Cognitiva e da Psicanálise, por meio do posicionamento, de um lado, sobre o processo de construção do sentido dos enunciados (CULIOLI, 1990; DE VOGÜÉ, FRANCKEL, PAILLARD, 2011) e, de outro, sobre as interações caracterizadas como rotinizadas, integradas ao conceito de formato (BRUNER, 1983), salientando, ainda, a relação entre o brincar, a fantasia e a linguagem na primeira infância (WINNICOTT, 1982). Como corpus, é analisada a fala de uma criança do sexo masculino, GUS, registrada entre 24 e 35 meses de idade, dados do banco NALíngua, projeto de pesquisa interdisciplinar coordenado por DEL RÉ (UNESP/FCLAr-CNPq). A análise centra-se nas interações de GUS em que se observam brincadeiras com diferentes tipos de carros, um jogo de cartas temático, também sobre carros, e o enredo do próprio filme de animação Carros (PIXAR, DISNEY, 2006), elementos que se fazem presentes em um vasto conjunto de suportes com o qual a criança interage, estimulando sua produção verbal e não verbal. Ao examinar sua presença na aquisição e na dinâmica de aprendizagem de aspectos estruturais da língua, mostramos como a criança se apropria de representações às quais as palavras ou expressões por ela empregadas servem de acesso graças a um processo de ajustamento intersubjetivo que integra a fantasia e as suas experiências lúdicas.