AUTORES, NARRADORES, NÃO-AUTORES: A EXPERIÊNCIA DE PARTES DE ÁFRICA.
DOI:
https://doi.org/10.48075/rlhm.v7i10.5890Resumo
Helder Macedo, em seu romance de estréia, joga com o estatuto do narrador e da narrativa memorialista, problematizando ambos num jogo inteligente e provocador. Para aprofundar e contrastar com seu “autor”-narrador, categoria que ainda não encontrou seu estudo definitivo, mas que orquestra boa parte dos efeitos radicais dessa obra, ele lança mão de textos como um (suposto) relatório que teria sido escrito por seu pai e um Drama Jocoso de autoria de um seu “heterônimo”, Luís Garcia de Medeiros. É principalmente no cotejo entre as opções artísticas de Medeiros – criativas, mas datadas – e as do próprio Macedo que se encontra a distinção entre um tipo de narrativa “pós-moderna” e politicamente engajada dos anos 60 e 70 e a prosa de Macedo. Lançando mão da figura de Don Giovanni (Don Juan) como suplemento obsceno do burguês ordeiro e respeitador pacificado com o salazarismo, Medeiros aceita soluções binárias, quase maniqueístas, que analisamos através do materialismo lacaniano, enquanto Macedo propõe um olhar radicalmente tolerante e questionador: ao receber em seu macrotexto vozes distintas da sua, ao mesmo tempo em que se posiciona reafirmando suas dúvidas e perplexidades, num discurso fortemente marcado pelo condicional, permite que as vozes distintas estabeleçam uma espécie de paródia (ode paralela) , ecoando visões de mundo distintas e não de todo hierarquizadas, como se fosse uma nova aproximação do diálogo bakhtiniano tout court, que Bakhtin apontava como único em Dostoievski.
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