Mulheres anarquivadas: testemunho, violência e condição feminina em Nossa senhora do nilo, de Scholastique Mukasonga
Palavras-chave:
Estudos de gênero, Memória, Literatura de língua francesaResumo
O liceu Nossa Senhora do Nilo prepara a elite feminina do Ruanda para assumir seu papel na sociedade. As disputas discursivas, ideológicas e culturais revelam relações de poder opressivas, em que a minoria cotista tutsi é constantemente humilhada por suas colegas Hutus. Em um país marcado pela violência e pelas diferenças étnico-raciais, Scholastique Mukasonga procura dar voz à memória até então obliterada pela prática genocidária. Ao desvelar o dia a dia das alunas, a autora constrói uma narrativa que tensiona o ambiente privado como reflexo de uma sociedade excludente. O teor testemunhal da obra anarquiva esses corpos femininos a fim de revelar uma experiência outra não contemplada pelos processos de reelaboração da memória oficial. Um mosaico de vozes, polifônico e plural, problematiza temáticas como virgindade, feminilidade, violência, estupro, abuso sexual e relações de poder, que também são pautadas por questões de raça e classe. O objetivo deste estudo é fazer uma análise crítica do livro Nossa Senhora do Nilo (2017), de Scholastique Mukasonga, a fim de evidenciar a condição feminina na obra. O processo investigativo se dará sob a perspectiva dos estudos de gênero e os estudos da memória. Para tal, serão utilizados os arcabouços teóricos de Bernard Bruneteau (2006), Catherine Coquio (2004), Geoffrey Hartman (2000), Hélène Piralian (2000), Mahmood Mamdani (2001), Michelle Perrot (2003; 2017), Rebecca Solnit (2017).
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