Pretensão do novo, a presença do velho: a prática discursiva e a identificação g0y em questão
Palavras-chave:
Análise de Discurso, G0y, Identificação, Práticas discursivasResumo
As noções de gênero e sexualidade discutidas a partir da perspectiva de Butler (2013) já nos fazem pensar a distinção do discurso da medicina em relação ao discurso do próprio sujeito: natureza x cultura. Para uma teoria materialista do discurso de linha francesa, a noção de gênero é determinada pelo viés ideológico (ORLANDI, 2017). A partir da aproximação dessas noções, muitos trabalhos têm discutido abordagens e posicionamentos referentes ao aspecto não-cisgênero e/ou não-heterossexual. Em nosso caso, fazemos aproximação da noção de gênero, tanto da perspectiva da teoria queer quanto da discursiva, para analisar os dizeres de um homem cisgênero homossexual que, em uma entrevista concedida ao Huffpost Brasil, se autoidentifica como g0y. A “identidade” g0y, no entanto, de acordo com o próprio movimento político-ideológico, define-se mediante a prática de um homem heterossexual que pode sentir atração por outros homens, embora não lhe seja permitido o namoro com parceiros do mesmo gênero e, tampouco, a prática sexual anal. Assim, a partir de sequências discursivas recortadas (ORLANDI, 1984) da supracitada entrevista, mobilizamos a noção de posição-sujeito (PÊCHEUX, 2014b [1975]) para observar o processo de identificação e desidentificação do sujeito no discurso sobre/com sua sexualidade em face ao movimento g0y e, também, a noção de interdiscurso (ORLANDI, 2013), remetendo os dizeres do sujeito às redes de memórias que permitem que suas palavras façam sentido.Downloads
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