Dossiê Ambientalismos corporativos: captura, instrumentalização e controle sócio-espacial
Nos últimos trinta anos, observamos no Brasil e no mundo a profusão de práticas empresariais voltadas à questão ambiental, tais como a produção de relatórios de sustentabilidade, certificações e auditorias ambientais, programas nomeados de responsabilidade socioambiental ou, no léxico atual, ESG (Environmental, Social, Governance) etc. que configuram novas formas legítimas de ser empresário (LOPES, 2004). Esse processo de “ambientalização” das empresas, através de iniciativas voluntárias e autorreguladas, vem acompanhado de tentativas das próprias corporações de arrefecer o controle público e diminuir a potencialidade da crítica social sobre suas atividades (ACSELRAD, 2010).
Por meio desses discursos e práticas, os agentes econômicos — corporações, consultorias, instituições financeiras — visam moldar a percepção e a abordagem das questões socioecológicas e seus impactos. Desastres ambientais, desde o rompimento de barragens até deslizamentos de terra e inundações, poluição, contaminações industriais e por uso de agrotóxicos, queimadas, desmatamento, perda de biodiversidade e aquecimento global, entre outros, são reconhecidos apenas se as respostas a esses fenômenos não colocarem em risco o modelo econômico dominante.
Importantes autores e autoras das áreas de Geografia e Ciências Sociais, têm contribuído significativamente para a compreensão das estratégias corporativas no campo ambiental. No entanto, devido à grande quantidade e diversidade de iniciativas, atores e mecanismos envolvidos, ainda há um vasto campo para investigação, e a Ecologia Política tem muito a contribuir na compreensão destas práticas e suas repercussões na luta pelos direitos socioambientais.
A AMBIENTES: Revista de Geografia e Ecologia Política, por meio do dossiê Ambientalismos corporativos: captura, instrumentalização e controle sócio-espacial, convida autoras e autores a submeterem artigos originais que analisem os temas descritos a seguir:
- Programas socioambientais das corporações nos territórios e suas repercussões políticas nas comunidades, com destaque para atuação corporativa perante povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais;
- O uso do marketing verde pelas corporações, através dos discursos envolvendo o Desenvolvimento Sustentável, a Responsabilidade Social Corporativa (RSC), as diretrizes ESG (Environmental, Social and Governance) etc.
- Atuação das corporações frente ao poder legislativo e executivo (municipal, estadual e federal) e suas influências nas políticas regulatórias ambientais.
- Processos nacionais e internacionais de certificação, sistemas de gestão e auditorias ambientais.
- Estratégias empresariais relacionadas às mudanças climáticas, economia verde e mecanismos de financeirização da natureza, por exemplo: comércio de emissões de carbono, projetos de redução da emissão de gases de efeito estufa (netzero) e Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+), títulos verdes (green bounds), pagamentos por serviços ambientais etc.
Além de artigos científicos, serão muito bem-vindos resenhas, entrevistas e relatos de lutas e ativismos.
Coordenação do dossiê: Thiago Roniere Rebouças Tavares, Raquel Giffoni Pinto e Maíra Sertã Mansur.
E-mail para contato: thiagoroniere@gmail.com