A Fundação Renova como forma corporativa: Estratégias empresariais e arranjos institucionais no desastre da Samarco/Vale/BHP Billiton no rio Doce, Mariana (MG)
DOI:
https://doi.org/10.48075/amb.v3i2.28438Resumo
O dia 5 de novembro marcou a vida de comunidades inteiras. O rompimento da barragem de Fundão, operada pela Samarco, uma joint-venture entre Vale e BHP Billiton, causou mortes e danos ao longo dos mais de 600 km percorridos pelo mar de lama no curso do leito do rio Doce, de Mariana ao litoral do Espírito Santo. Para gerenciar a crise e lidar com o processo de reparação as empresas responsáveis pelo desastre, em parceria com alguns órgãos do Estado brasileiro, criaram uma figura aparentemente inédita sob a lógica de uma fundação corporativa, chamada de Fundação Renova. O tratamento institucional dado ao desastre reestruturou relações de poder entre órgãos públicos, judiciário, e entidades da sociedade civil e movimentos sociais. A partir de observações etnográficas e análise de documentos que versam sobre os acordos e arranjos institucionais vinculados à fundação, neste artigo nos perguntamos sobre a dita autonomia desta, analisando sua posição no sistema de governança do desastre, assim como elementos de sua criação, estrutura interna e trajetória de alguns de seus conselheiros e diretores. Qual o nível de envolvimento da Renova com as empresas? Como ela se apresenta diante do debate acerca dos processos reparatórios? O que ela pode nos dizer sobre as estratégias corporativas envolvendo conflitos neoextrativistas? Como as populações atingidas lidam com a Fundação nas arenas de discussão? Através de algumas respostas a essas perguntas, sugerimos aqui que a Fundação Renova pode ser considerada como uma forma corporativa que oferece versatilidade às intervenções das mineradoras para gerenciar a crise.
Palavras-chave: neoextrativismo; governança; desastre da Samarco; Fundação Renova.
The Renova Foundation as a corporate form: Corporate strategies and institutional arrangements for the Samarco / Vale / BHP Billiton disaster on the Rio Doce, Mariana (MG)
Abstract
November 5th marked the life of entire communities. The failure of the Fundão dam, operated by Samarco, a joint venture between Vale and BHP Billiton, caused deaths and damages along the 600 km traversed by the sea of mud in the course of the Doce river basin, from Mariana to the coast of Espírito Santo. To manage the crisis and deal with the repair process, the companies responsible for the disaster, in partnership with some agencies of the Brazilian State, created an apparently unprecedented figure under the logic of a corporate foundation presented as autonomous, called the Renova Foundation. The institutional treatment given to the disaster restructured power relations between public agencies, the judiciary, and civil society entities and social movements. Based on ethnographic observations and analysis of documents dealing with institutional agreements linked to the foundation, in this article we ask ourselves about its said autonomy, analyzing its position in the disaster governance system, as well as elements of its creation, internal structure and trajectory of some of its directors. What is Renova's level of involvement with companies? How does it present itself in the face of the debate about reparatory processes? What can it tell us about corporate strategies involving neoextractive conflicts? How do affected populations deal with the Foundation in the discussion arenas? Through some answers to these questions, we suggest here that the Renova Foundation can be considered a corporate form that offers versatility to the interventions of mining companies to manage the crisis.
Keywords: neoextrativism; governance; Samarco disaster; Renova Foundation.
La Fundación Renova como forma corporativa: Estrategias empresariales y arreglos institucionales del desastre de Samarco/Vale/BHP Billiton en el rio Doce, Mariana (MG)
Resumen
El 5 de noviembre marcó la vida de comunidades enteras. El colapso del dique Fundão, operado por Samarco – una joint venture entre Vale y BHP Billiton –, provocó muertes y daños a lo largo de los más de 600 km que atravesó el mar de lama siguiendo el cauce del río Doce, desde Mariana hasta alcanzar la costa de Espíritu Santo. Para gestionar la crisis y afrontar el proceso de reparación, las empresas responsables del desastre, en alianza con algunas agencias del Estado brasileño, crearon una figura aparentemente inédita bajo la lógica de una fundación corporativa presentada como autónoma, denominada Fundación Renova. El tratamiento institucional dado al desastre reestructuró las relaciones de poder entre los organismos públicos, el poder judicial y las entidades de la sociedad civil y movimientos sociales. Con base en observaciones etnográficas y análisis de documentos que tratan de acuerdos y arreglos institucionales vinculados a la fundación, en este artículo nos preguntamos sobre su mentada autonomía, analizando su posición en el sistema de gobernanza del desastre, así como aspectos de su creación, estructura interna y trayectoria de algunos de sus directores y funcionarios. ¿Cuál es la relación de la Renova con las empresas? ¿Cómo se presenta en el proceso de reparación? ¿Qué puede decirnos sobre las estrategias corporativas desplegadas en conflictos neoextractivistas? ¿Cómo lidian las victimas con la Fundación en los foros de discusión? A través de algunas respuestas a estas preguntas, sugerimos aquí que la Fundación Renova puede ser considerada una forma corporativa que ofrece versatilidad a las intervenciones de las empresas mineras para gestionar la crisis.
Palabras clave: neoextractivismo; gobernanza; desastre de Samarco; Fundación Renova.
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