“Faz uma série pra mim?” Etnografando a prescrição de exercícios na musculação

Alan Camargo Silva; Jaqueline Ferreira

doi:10.36453/cefe.2024.32883

Autores

Alan Camargo Silva Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) https://orcid.org/0000-0003-1729-5151
Jaqueline Ferreira Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro https://orcid.org/0000-0002-7662-1773

DOI:

https://doi.org/10.36453/cefe.2024.32883

Palavras-chave:

Educação física e treinamento, Academias de ginástica, Prescrições

Resumo

INTRODUÇÃO: A prescrição de exercícios caracteriza-se por uma das diversas responsabilidades de quem atua na musculação e, a depender do contexto socioeconômico e cultural, mudam os sentidos e significados atribuídos à intervenção do profissional de Educação Física.
OBJETIVO: Assim, o recorte desse estudo teve como objetivo analisar aspectos socioculturais que interferem na prescrição de exercícios por parte de profissionais de Educação Física em academias de ginástica.
MÉTODOS: Fundamentado no referencial teórico-metodológico do Interacionismo Simbólico, foi desenvolvido um estudo etnográfico especificamente no setor da musculação em dois estabelecimentos cariocas durante um ano. A observação participante ocorreu em uma academia no bairro popular da Cidade de Deus e outra no bairro nobre da Barra da Tijuca. O celular do próprio pesquisador serviu como diário de campo.
RESULTADOS: Os resultados indicaram que a descredibilidade do professor de Educação Física tensionada por uma espécie de know-how corporal de alguns alunos interferia (in)diretamente na prescrição de exercícios por parte desses profissionais. Logo, detectou-se que as negociações de saberes e as experiências corporais dialogadas entre profissionais e frequentadores eram entremeadas aos parâmetros técnico-científicos que norteiam a prescrição nesses espaços sociais.
CONCLUSÃO: À guisa de fechamento, destaca-se que a interação face a face entre profissionais de saúde e usuários é mediada social e culturalmente e modula a aplicação dos conhecimentos atrelados ao universo da racionalidade biomédica tão presente no campo da saúde.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Alan Camargo Silva, Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE)

´Doutor em Saúde Coletiva (UFRJ). Coordenador do Grupo de Trabalho Temático Corpo e Cultura do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (GTTCC/CBCE). Lattes: http://lattes.cnpq.br/0220960603229593

Jaqueline Ferreira, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro

Doutora em Antropologia Social (École des Hautes Études en Sciences Sociales - EHESS, França). Professora Associada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Referências

BECKER, H. A escola de Chicago. Mana, v. 2, n. 2, p. 177-88, 1996. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-93131996000200008

BECKER, H. Evidências: sobre o bom uso de dados em ciências sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 2022.

BECKER, H. Métodos de pesquisa em ciências sociais. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1997.

BOEHL, W. R.; MYSKIW, M. Situações etnográficas reversas: reflexões sobre construções culturais no contexto futebolístico. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 21, e31058, 2023. DOI: http://doi.org/10.36453/cefe.2023.31058

BOURDIEU, P. Sociologia geral. Vol. 3: as formas do capital: Curso no Collège de France (1983-1985). Petrópolis: Vozes, 2023.

CALESCO, V. A.; BOTH, C. Aplicação de técnicas de gestão de pessoas em academias de ginástica. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 17, n. 1, p. 325-30, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.36453/2318-5104.2019.v17.n1.p325

COULON, A. A escola de Chicago. Campinas: Papirus, 1995.

CRUZ, J. V.; BATISTA, M. B.; OLIVEIRA, R. C. Concepções de corpo nas academias de ginástica: uma revisão de escopo. In: SILVA, A. C. (Org.). Corpo e práticas corporais em academias de ginástica. Curitiba: Bagai, 2022. p. 11-22.

FARIA JÚNIOR, A. G.; CUNHA JÚNIOR, C. F. F.; NOZAKI, H. T.; MELO, V. A. O velho problema da regulamentação: contribuições críticas à sua discussão. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 17, n. 3, p. 266-72, 1996. Disponível em: http://www.rbce.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/856/511 Acesso em: 20/02/2024.

FERREIRA, J. A consulta médica como drama social: um olhar etnográfico. Cadernos de Saúde Coletiva, v. 19, n. 2, p. 215-24, 2011. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-641439 Acesso em: 20/02/2024.

FERREIRA, J. Semiologia do corpo. In: LEAL, O. F. (Org.). Corpo e significado: ensaios de antropologia social. 2. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2001. p. 89-104.

FURTADO, R. P. Novas tecnologias e novas formas de organização do trabalho do professor nas academias de ginástica. Pensar a Prática, v. 10, n. 2, p. 307-22, 2007. DOI: https://doi.org/10.5216/rpp.v10i2.1110

FURTADO, R. P. Trabalho e capital: a produção do valor nas academias de ginástica. In: SILVA, A. C. (Org.). Corpo e práticas corporais em academias de ginástica. Curitiba: Bagai, 2022. p. 37-48.

GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

GOFFMAN, E. Ritual de interação: ensaios sobre o comportamento face a face. Petrópolis: Vozes, 2011.

HELMAN, C. G. Cultura, saúde e doença. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

MACHADO, D.; MANTOVANI, T. V. L.; FILGUEIRAS, I.; FREIRE, E. S. Reflexões sobre a pesquisa em Educação Física: aproximações com a fenomenologia e a etnografia. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 21, e30238, 2023. DOI: http://doi.org/10.36453/cefe.2023.30238

MOREIRA, L. M. Brodagem, moral e músculo: a malhação de rua em Salvador. 2023. 245f. Tese (Doutorado em Antropologia) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2023. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/38261 Acesso em: 20/02/2024.

SAMPAIO, M. L. A consulta médica e as estratégias de negociação de um corpo saudável. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, v. 6, n. 18, p. 707-24, 2007. Disponível em: https://www.cchla.ufpb.br/rbse/SampaioArt.pdf Acesso em: 20/02/2024.

SILVA, A. C. Itinerário terapêutico e doenças crônicas: aproximações necessárias para a Educação Física. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 20, e-28734, 2022. DOI: http://dx.doi.org/10.36453/cefe.2022.28734

SILVA, A. C. Uma etnografia encarnada: imagens e identidades corporais de um pesquisador em uma academia de ginástica. In: FERREIRA, J.; BRANDÃO, E. R. (Orgs.). Reflexividade na pesquisa antropológica em saúde: desafios e contribuições para a formação de novos pesquisadores. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2021. p. 183-207.

SILVA, A. C.; FERREIRA, J. Corpo “educado”: atuação pedagógica de professores de Educação Física em academias de ginástica. Motrivivência, v. 32, n. 63, e76554, 2020. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2020e76554

SILVA, A. C.; FREITAS, D. C.; LÜDORF, S. M. A. Profissionais de educação física de academias de ginástica do Rio de Janeiro e a pluralidade de concepções de corpo. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 41, n. 1, p. 102-8, 2019. DOI: https://doi.org/10.1016/j.rbce.2018.04.002

VELHO, G. Goffman, mal-entendidos e riscos interacionais. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 23, n. 68, p. 145-8, 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-69092008000300012

VELHO, G. O futuro das ciências sociais e a importância de seu passado. Sociologia, Problemas e Práticas, n. 48, p. 11-18, 2005. Disponível em: https://repositorio.iscte-iul.pt/ Acesso em: 20/02/2024.