Visões ideológicas em torno do trabalho na comunidade alemã de Cândido Godói (RS): análise do livro “Meus dois corpos”

Resumo

O presente artigo tem como objetivo compreender  as visões ideológicas construídas discursivamente sobre a sociedade alemã no que diz respeito ao trabalho desenvolvido por esse grupo na cidade gaúcha de Cândido Godói e arredores. Para tanto, tomamos como objeto de estudo o  livro  “Meus dois corpos” (2007), de Anencir Flores da Silva e Jacinto Anatólio Zabolotsky, que trata da presença de alemães na região, dentre eles da suposta passagem do médico nazista Josef Menguele. Ainda que possua uma série de elementos relevantes para a análise discursiva, este estudo aborda como a noção de trabalho é tecida nesse livro e, desse modo, revela ideologias que sustentam modos de relações sociais na região.  Com base no pensamento do Círculo de Bakhtin, a análise desenvolvida tem, na palavra enquanto signo ideológico, uma unidade de análise central. Com esta pesquisa, observamos o predomínio de ideologias dominantes que buscam afirmar uma sociedade tida como “ideal”, tendo na homogeneidade um pilar para manutenção de certos valores sociais. Desse lugar, o trabalho desenvolvido pelos alemães e seus descendentes parece ser concebido como  algo digno e sagrado que valida, por si, a presença desse grupo na região, independentemente de se alinharem ou não ao nazismo. Desde que sejam “trabalhadores”, esse grupo pode pertencer  ao município e região.