O LUGAR DE FALA DA MULHER NEGRA EM OLHOS D’ÁGUA, DE CONCEIÇÃO EVARISTO

Autores

  • Roselene Cardoso ARAÚJO
  • Paulo Antônio VIEIRA JUNIOR Universidade Federal de Goiás. Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

DOI:

https://doi.org/10.48075/rt.v16i38.24210
Agências de fomento
Capes, Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Palavras-chave:

Conceição Evaristo, Mulher negra, Lugar de Fala, Descolonização

Resumo

Este artigo desenvolve análise do livro Olhos d’Água, de Conceição Evaristo. A leitura dos contos da autora é realizada tendo em vista as representações das imagens relacionadas à mulher afro-brasileira. A pesquisa parte da perspectiva de que Evaristo empreende a descolonização da mulher negra ao situá-la em um espaço discursivo rumo à libertação da herança colonialista. É marca presente na produção da escritora uma postura em que prevalece o resgate do ser social e em que se entrecruzam ou se confundem realidade e ficção, originando o que a autora denominou de “escrevivência”. Nesse processo, a autora coloca em evidência, no centro das narrativas, figuras da sociedade que se localizam no gueto, no espaço ignorado e se vinculam a uma cadeia hierárquica social na qual, no topo, está o homem branco e, na sequência, a mulher branca, subsegue o homem negro e, por último, a mulher negra que, ao se diferenciar da branca e do homem, torna-se “o outro do outro”, uma subcategoria duplamente subalternizada. No estudo, encontra-se sob destaque a conquista da voz e do reconhecimento desse lugar de fala, pois a figura subalternizada encontra autorrealização, o que não ocorre numa sociedade colonialista. O suporte teórico que dirige as análises reside, principalmente, nas obras de autoras que debatem os conceitos de lugar de fala, feminismo negro, literatura de autoria feminina e a intersecção gênero, etnia e classe social, como Djamila Ribeiro (2019), Luiza Lobo (1993), Grada Kilomba (2019), Gayatri C. Spivak (2010), dentre outras.

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Recebido em 05-03-2020 | Aceito em 10-05-2020

Biografia do Autor

Paulo Antônio VIEIRA JUNIOR, Universidade Federal de Goiás. Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

Possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Goiás (2005), mestrado em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás (2009) e doutorado em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás (2014). Atualmente é professor Adjunto I da Universidade Federal de Goiás e professor do quadro permanente da Escola de Formação de Professores e Humanidades da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria Literária e Literatura Brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: Yêda Schmaltz, literatura de autoria feminina, lírica moderna, literatura goiana, poesia erótica e erotismo.

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Publicado

08-06-2020

Como Citar

ARAÚJO, R. C.; VIEIRA JUNIOR, P. A. O LUGAR DE FALA DA MULHER NEGRA EM OLHOS D’ÁGUA, DE CONCEIÇÃO EVARISTO. Trama, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 38, p. 75 88, 2020. DOI: 10.48075/rt.v16i38.24210. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/trama/article/view/24210. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Literatura Brasileira Contemporânea: desafios e perspectivas