A Geografia e as preocupações ambientais: Uma história de esforços paralelos, oportunidades desperdiçadas e disputas de narrativas
DOI:
https://doi.org/10.48075/amb.v6i2.34602Resumo
Sempre existiram problemas do tipo que hoje denominamos “ambientais”. Não obstante, não há registro de sociedades anteriores à nossa que tenham criado todo um aparato discursivo para lidar, com insistência e alarme, com desastres ambientais e fenômenos de degradação ou destruição de ecossistemas e biomas. Muito menos falava-se em “crise ambiental” – e tampouco havia um grande “movimento ecológico”, nem sequer um ativismo “ambientalista” bastante difundido. O que parece ter vindo representar fatores novos e com um peso decisivo foram o advento do capitalismo como modo de produção, com a substituição da reprodução simples pela reprodução ampliada de capital, e a ascensão de uma sociedade civil cujos ativismos e movimentos passaram a ser animados, na segunda metade do século XX, por pautas cada vez mais diversificadas.
Como se situou e tem se situado a Geografia em face disso tudo? Quais suas contribuições? Apesar de estudarem a “natureza”, objetivando a compreensão dos fenômenos geobiofísicos, os geógrafos físicos frequentemente se abstiveram de um posicionamento público veemente a propósito da problemática ambiental, omitindo-se diante de seus debates. De sua parte, muitos geógrafos humanos se deixaram seduzir, a partir das décadas de 1970 e 1980, pela ideia de uma “purificação epistemológica”, ou seja, pela tentativa de transformar a Geografia em uma ciência social “pura”, desembaraçada da tarefa de se ocupar do estudo de processos geobiofísicos. A “purificação epistemológica” teve várias consequências, a começar pelo fato de que a “natureza” foi, para muitos geógrafos humanos, quando muito reduzida a um discurso histórico-filosófico-sociológico sobre algo que, não obstante, passou a ser desinteressante sob o ângulo da pesquisa empírica e do conhecimento de detalhe. A “purificação epistemológica” retroalimentou, por fim, uma tendência de muitos geógrafos físicos no que se refere a um maior afastamento em relação à Geografia Humana, o que dificultou ainda mais uma apropriação sólida de assuntos concernentes a políticas públicas, planejamento e gestão territoriais.
Como resultado de tudo isso, a Geografia, de um modo geral, e a despeito de muitas contribuições técnico-científicas específicas e de um imenso potencial epistemológico, vem, há décadas, desperdiçando a chance de exercer protagonismo nos debates públicos que vieram parcialmente dominar a paisagem política e o imaginário a partir das últimas décadas do século XX, com suas discussões em torno da crise climática, da acidificação dos oceanos, da irrespirabilidade do ar nas grandes cidades, da extinção de espécies e erradicação de ecossistemas e biomas inteiros, da injustiça ambiental, e assim sucessivamente..
Palavras-chave: Natureza e Sociedade; Preocupações Ambientais; Objetos de Conhecimento Híbridos; Geografia.
Geography and environmental concerns: A history of parallel efforts, wasted opportunities and competing narratives
Abstract
There have always been problems of the type that we now call ‘environmental.’ However, there is no record of societies before ours that created an entire discursive apparatus to deal, with insistence and alarm, with environmental disasters and phenomena of degradation or destruction of ecosystems and biomes. Much less was there any talk of an ‘environmental crisis’ – and there was also no major ‘ecological movement,’ nor even widespread ‘environmentalist’ activism. What seems to have represented new and decisive factors were the advent of capitalism as a mode of production, with the replacement of simple reproduction of capital by expanded reproduction, and the rise of a civil society whose movements began to be driven, in the second half of the 20th century, by increasingly diverse agendas.
How has geography positioned itself in the face of all this? What have been its contributions? Despite studying ‘nature’ with the aim of understanding geobiophysical phenomena, physical geographers have often refrained from taking a strong public stance on environmental issues, omitting themselves from related debates. On the other hand, many human geographers have been seduced by the idea of an “epistemological purification” – that is, by the attempt to transform geography into a “pure” social science, free from the task of studying geobiophysical processes – since the 1970s and 1980s. This ‘epistemological purification’ has had several consequences, starting with the fact that, for many human geographers, ‘nature’ has been reduced at best to a historical-philosophical-sociological discourse on something that, nevertheless, has become uninteresting for them from the perspective of empirical research and detailed knowledge. This ‘epistemological purification’ ultimately fueled a tendency among many physical geographers to increasingly distance themselves from human geography, which made it even more difficult for them to have a solid understanding of issues related to public policies, planning, and territorial management, especially from a socially critical or radical viewpoint.
As a result of all this, geography, in general, and despite many specific technical-scientific contributions (and an immense epistemological potential), has for decades been wasting the opportunity to play a leading role in the public debates that have come to partially dominate the political landscape and the public imagination since the last decades of the 20th century, with its discussions on the climate crisis, environmental injustice, ocean acidification, the unbreathable air in large cities, the extinction of species and the eradication of entire ecosystems and biomes, and so on.
Keywords: Nature and Society; Environmental Concerns; Hybrid Epistemic Objects; Geography.
La Geografía y las preocupaciones ambientales: Una historia de esfuerzos paralelos, oportunidades desperdiciadas y disputas narrativas
Resumen
Siempre ha habido problemas del tipo que hoy llamamos “ambientales”. Sin embargo, no hay registro de sociedades anteriores a la nuestra que crearan todo un aparato discursivo para abordar, con insistencia y alarma, los desastres ambientales y los fenómenos de degradación o destrucción de ecosistemas y biomas. Mucho menos se habló de una “crisis ambiental”; ni hubo un gran “movimiento ecológico”, ni siquiera un activismo “ambientalista” generalizado. Lo que parece haber llegado a representar nuevos factores con un peso decisivo fueron el advenimiento del capitalismo como modo de producción, con la sustitución de la reproducción simple por la reproducción ampliada del capital, y el surgimiento de una sociedad civil cuyo activismo y movimientos comenzaron a ser animados, en la segunda mitad del siglo XX, por agendas cada vez más diversas.
¿Cómo ha estado la Geografía ante todo esto? ¿Cuales son sus aportes? A pesar de estudiar la “naturaleza”, con el objetivo de comprender los fenómenos geobiofísicos, los geógrafos físicos a menudo se abstuvieron de adoptar una postura pública vehemente sobre las cuestiones ambientales, descuidando sus debates. Por su parte, muchos geógrafos humanos se dejaron seducir, a partir de los años 1970 y 1980, por la idea de una “purificación epistemológica”, es decir, por el intento de transformar la Geografía en una ciencia social “pura”, liberada de la tarea de estudiar los procesos geobiofísicos. La “purificación epistemológica” tuvo varias consecuencias, empezando por el hecho de que la “naturaleza” quedó, para muchos geógrafos humanos, en el mejor de los casos reducida a un discurso histórico-filosófico-sociológico sobre algo que, sin embargo, dejó de ser interesante desde el ángulo de la investigación empírica y del conocimiento detallado. La “purificación epistemológica” acabó retroalimentando una tendencia de muchos geógrafos físicos a un mayor alejamiento de la Geografía Humana, lo que hizo aún más difícil lograr una apropiación sólida de conocimientos relativos a las políticas públicas y la gestión territorial, sobre todo desde una perspectiva socialmente crítica.
Como resultado de todo esto, la Geografía, en general, y a pesar de numerosas aportaciones técnico-científicas específicas (y de un inmenso potencial epistemológico), ha estado desperdiciando durante décadas la oportunidad de jugar un papel protagonista en los debates públicos que han llegado a dominar parcialmente el panorama político y el imaginario de las últimas décadas del siglo XX y comienzo del siglo XXI, con sus debates en torno a la crisis climática, la acidificación de los océanos, la irrespirabilidad del aire en las grandes ciudades, la extinción de especies y la erradicación de ecosistemas y biomas enteros, la injusticia ambiental, etc.
Palabras clave: Naturaleza y Sociedad; Preocupaciones Ambientales; Objetos de Conocimiento Híbridos; Geografía.
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