A inferência abdutiva em Peirce

Resumo

Um dos temas mais discutidos da filosofia de Peirce, principalmente em Filosofia da Ciência, é o raciocínio abdutivo, proposto pelo autor como uma das três formas de inferência lógica, complementando o método indutivo e dedutivo, em uma espécie de apoio mútuo. Inicialmente, Peirce concebeu a inferência abdutiva como uma hipótese ampliativa de conhecimento, de modo a propor explicações no caso de não haver uma teoria alternativa. A importância de tal desenvolvimento na filosofia do autor se tornará, ao que parece, crucial para a construção e explicação de teorias científicas. Diferentemente de outros pensadores que propuseram versões alternativas ou mesmo se opuseram criticamente aos raciocínios estabelecidos acima mencionados, Peirce introduz tal modelo inferencial como parte complementar de um ciclo que compreende a pré-concepção de uma teoria (hipótese provisória), sua estrutura axiomática (dedução) e por fim a sua experimentação (indução), consequentemente afirmando sua veracidade ou mesmo verdade aproximada. Ao que tudo indica, Peirce imprimiu certa originalidade ao conceber tal proposta, mesmo sendo devedor de seus predecessores e, em particular, da ciência de sua época, como será mencionado neste trabalho. Onde, a partir do desenvolvimento iniciado por Peirce, vários filósofos se utilizaram da concepção abdutiva para defender a tese do realismo científico em filosofia da ciência. Pretende-se com este artigo apresentar a natureza de tal constructo a partir da influência de seus predecessores, bem como a originalidade do autor em unir o modelo abdutivo ao dedutivo e indutivo na construção de teorias científicas. Por fim, apontar que o autor influenciou muitos outros filósofos da ciência, principalmente pelo método abdutivo que formulara.