Os signos do realismo: da literatura ao cinema, de Flaubert às imagens digitais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.48075/rt.v15i2.27774
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Palavras-chave:

Realismo, crise da representação, narrativa, estética.

Resumo

Este trabalho propõe uma reflexão teórica sobre o conceito de realismo na literatura e no cinema, estabelecendo conexões entre os dois campos artísticos. Para isso, resgata formulações teóricas clássicas e propõe sua revisão a partir da leitura de pensadores contemporâneos, apontando para o cenário atual de crise da representação nas artes. Para Roland Barthes, a estética do romance realista encarnaria um novo verossímil, fruto de uma fusão entre o referente e o significante, de modo a produzir um “efeito do real”. Para André Bazin, a imagem cinematográfica seria capaz de operar a “epifania do real”, levando o desejo de representação realista a seu limite. As posições destes autores foram bastante criticadas por teóricos como Rancière, Grodal e Carroll, que apontaram suas deficiências e incompletudes. Para Wood, o realismo é um parâmetro avaliativo para toda arte narrativa, que se constrói a partir de uma dinâmica de aproximação e afastamento com a realidade. No cenário atual, o problema da representação coloca em xeque o valor de verdade das formas de representação, o que se materializa no sentimento de ceticismo exacerbado que caracteriza o contexto da pós-verdade. As imagens cinematográficas perderam seu estatuto de veridicidade material, uma vez que o filme não tem mais um suporte físico, enquanto a literatura mistura fato e ficção em exercícios de autoficção. Qual seria a estética realista possível para nosso tempo?

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Biografia do Autor

Jeferson Ferro, UNINTER

Formado em Letras-Inglês e mestre em Literatura (construção da alteridade e pós-modernidade, UFPR), doutor em Comunicação (linha Cinema, UTP). Entre meus temas de interesse estão a construção da noção de verossimilhança nas manifestações discursivas contemporâneas, sobretudo a questão da dicotomia "ficção X realidade" nas narrativas audiovisuais, e estudos da semiótica peirceana aplicada à literatura e ao audiovisual. Atuo no ensino superior, em cursos das áreas de Ciências Sociais Aplicadas e Comunicação, desde 2001, na Uninter.

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Publicado

31-08-2021

Como Citar

FERRO, J. Os signos do realismo: da literatura ao cinema, de Flaubert às imagens digitais. Travessias, Cascavel, v. 15, n. 2, p. e27774, 2021. DOI: 10.48075/rt.v15i2.27774. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/27774. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

[DT] LITERATURA, CINEMA E INTERMIDIALIDADE: TEXTOS, CONTEXTOS E IMAGENS