Obscena lucidez que é a vida

a derrelição em a Senhora D, de Hilda Hilst

Autores

DOI:

https://doi.org/10.48075/rt.v17i3.31662

Palavras-chave:

Corpo, Erotismo, família, morte

Resumo

Este ensaio se propõe a realizar uma leitura filosófica da obra A obscena Senhora D (2018), da autora Hilda Hilst, a partir de três eixos centrais: a morte, o corpo e a família. Tal tríade, a princípio, parece não se tocar, mas, no texto de Hilda, dissolve-se em pontos temáticos que convergem por meio dos delírios filosóficos da protagonista. Para pensar essas questões, traço um paralelo entre as reflexões da personagem e as ideias desenvolvidas por Georges Bataille, na obra O Erotismo (2017). Aproximo, dessa forma, o conceito de “derrelição”, que permeia o texto da autora, com as noções de “continuidade” e “descontinuidade”, desenvolvidas por Bataille ao longo do seu ensaio, a partir de uma base filosófica. Assim como em Hilda Hilst o sentimento de derrelição da protagonista sintetiza a angústia diante da percepção da situação de abandono na qual o homem se encontra, em Bataille, a angústia ocorre a partir da percepção da descontinuidade entre o indivíduo e o outro, do abismo que nos separa e interfere em nossas tentativas de contato. Incapazes de comunicar plenamente nossas experiências, compartilhamos a sensação de vertigem ao baixar os olhos para o precipício. Nos dois autores, morte, corpo, erotismo e sagrado surgem como pontos através dos quais a derrelição se rompe, ainda que momentaneamente, e por meio dos quais a continuidade pode ser experimentada.

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Biografia do Autor

Raíssa Varandas Galvão, Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF

Doutoranda e mestra em Estudos Literários pela Faculdade de Letras da UFJF e graduada em História pela UFJF.

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Publicado

22-12-2023

Como Citar

GALVÃO, R. V. Obscena lucidez que é a vida: a derrelição em a Senhora D, de Hilda Hilst. Travessias, Cascavel, v. 17, n. 3, p. e31662, 2023. DOI: 10.48075/rt.v17i3.31662. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/31662. Acesso em: 9 maio. 2024.

Edição

Seção

LITERÁRIA