Sade com Lacan – E a costura
Palavras-chave:
Sade, violência, feminino, gozo, Lacan.Resumo
O ensaio articula o quadro “A origem do mundo”, de Courbet com a cena final de A filosofia na alcova, de Sade. A tela de Courbet apresenta o corpo em cena. Embora o lençol faça a moldura do corpo, não há strip-tease, desde o início o sexo descoberto já está ali, em primeiríssimo plano. Não há revelação ou segredo a se desnudar. O gozo inscrito, pintado, instaura a sua ruptura, a sua violência. É esse o seu caráter trágico, de perda, ausência e morte. Na tela, a crueza da imagem assusta, atrai, enreda. Não há véu, mas, sim, o horror. No entanto, não há como retratar o Real. Conforme propôs Lacan o Real é irredutível. Não há significante nem imagem para representá-lo. No sétimo capítulo de A filosofia na alcova a Senhora de Mistival torna-se a vítima, que põe fim aos trabalhos e à educação de Eugénie. A aluna costura a vagina e o ânus da mãe. A costura põe fim a cena. Talvez, só mesmo “cosendo o horror”, tamponando-o, como o fez Éugénie, seja possível vislumbrar algo que escape ao Real, como se tal “escapadela” fosse possível. Costura-se o buraco materno, “cala-se” a mãe pelo buraco de baixo, origem da vida.
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