A realidade bate à porta: a confrontação entre a formação docente, o discurso da sociedade e a realidade multilíngue da sala de aula

Autores

  • Fernanda Maria Müller Gehring
  • Luciana Alves Bonfim
Agências de fomento
CAPES

Palavras-chave:

Variedade linguística, formação de professores, construção de identidade.

Resumo

É cada vez mais evidente que o professor de português vive um dilema dentro da sala de aula: de um lado, a crença arraigada na sociedade de que o professor de Português deve ensinar o "bom português" ou o "português correto", diretamente associado ao português da variante padrão ou "culta", como alguns preferem chamar.  Por outro lado, o docente é confrontado diariamente com a realidade de sala de aula que evidencia a existência de uma heterogeneidade linguística e faz cair por terra a crença de uma nação monolíngue. Ainda, a formação inicial deste profissional, quando toca no assunto, muitas vezes trata a heterogeneidade linguística de forma superficial, o que acaba por colaborar para o sentimento de dúvida dos professores da disciplina de Português: afinal de contas "qual português ensinar"? É em meio a este espaço de conflito que o professor passa por um constante processo de construção de identidade profissional, muitas vezes angustiante. Longe de propor soluções definitivas, o presente artigo tem como proposta discutir a formação inicial do professor de Letras tendo em vista a heterogeneidade linguística que será encontrada por ele ao longo do seu estágio e consequente vida docente, considerando o processo de construção de sua identidade profissional. O aporte teórico constitui-se de leituras a respeito da identidade (HALL, 2000), concepções de linguagem e língua (PERFEITO, 2007; CÉSAR; CAVALCANTI, 2007), heterogeneidade linguística em sala de aula e formação de professores (BAGNO, 2009; BRASIL, 1998; OLIVEIRA, 2008; SIQUEIRA, 2012).

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALTENHOFEN, Cléo Vilson. Áreas linguüísticas do Português falado no Sul do Brasil: um balanço das fotografias geolinguísticas do ALERS. In: AGUILERA, Vanderci de Andrade (Org.). A geolínguística no Brasil: caminhos e perspectivas. Londrina: Eduel, 2013. p. 177-208.

BAGNO, Marcos. Não é errado falar assim! em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. A sociolingüística na sala de aula. In: 56ª Reunião anual da SBPC, 2004, Cuiabá. Anais... Cuiabá – MT, 2004. Disponível em: <http://www.sbpcnet. org.br/livro/56ra/banco_conf_simp/textos/StellaRicardo.htm. Acesso em 23 set 2014.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. Vol. 1. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: <¬ http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf >. Acesso em 05 ago. 2012.

CÉSAR, América L.; CAVALCANTI, Marilda C. Do singular para o multifacetado: o conceito de língua como caleidoscópio. In: CAVALCANTI, Marilda C.; BORTONI-RICARDO, Stella Maris (Orgs.). Transculturalidade, linguagem e educação. Campinas: Mercado das Letras, 2007. p. 45-66.

FRITZEN, Maristela Pereira. “Ichsprecheanders, aber das istauch Deutsch”: línguas em conflito em uma escola rural localizada em zona de emigração no sul do Brasil. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, 47(2): jul/dez. 2008, p. 341-356.

GNERRE, Maurizion. Linguagem, escrita e poder. 5. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.

HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 103-133.

KLEIMAN, A. Os estudos de letramento e a formação do professor de língua portuguesa. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 8, n. 3, p. 487-517, 2008.

MAHER, T.M. Em busca de conforto linguístico e metodológico no Acre indígena. Trabalhos em Linguística Aplicada. Campinas, no. 47(2), jul./dez., 2008, p. 409-428.

OLIVEIRA, Mariangela Rios de. Preconceito lingüístico, variação e o papel da universidade. Caderno de Letras da UFF: Dossiê Preconceito lingüístico e cânone literário. Rio de Janeiro, p. 115-129, 1 sem. 2008. Disponível em: < http://moodle.stoa.usp.br/file.php/1103 /textos/Norma_e_Ensino/OLIVEIRA_PreconceitoLinguistico_PapelDaUniversidade.pdf> Acesso em 15 set 2014.

PERFEITO, Alba Maria. Concepções de linguagem e análise linguística: diagnóstico para propostas de intervenção. In: Congresso latino-americano sobre formação de professores de línguas. 1. 2006, Florianópolis. ABRAHÃO, M. H. V; GIL, G; RAUBER, A. S. (org.). Anais... Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina. 2007. p. 824-836.

SCHERRE, Maria Marta Pereira. Entrevista com Maria Marta Pereira Scherre sobre preconceito lingüístico, variação lingüística e ensino. Rio de Janeiro: 2008. Caderno de Letras da UFF: Dossiê Preconceito lingüístico e cânone literário. Rio de Janeiro: n 36, p. 11-26, 1 sem 2008. Entrevista concedida a Jussara Abraçado. Disponível em: . Acesso em 15 set 2014.

SIQUEIRA, Sávio. Diversidade, ensino e linguagem: que desafios e compromissos aguardam o profissional de Letras contemporâneo? Letras & Letras, Cascavel, v. 13, n. 24, p. 35-66, 1 sem 2012. Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/linguaseletras/article/view/ 6955/5149>. Acesso em 19 set 2014.

Downloads

Publicado

20-08-2016

Como Citar

MÜLLER GEHRING, F. M.; BONFIM, L. A. A realidade bate à porta: a confrontação entre a formação docente, o discurso da sociedade e a realidade multilíngue da sala de aula. Travessias, Cascavel, v. 10, n. 2, p. e12757, 2016. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/12757. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

LINGUAGEM