O transcendental avant la lettre na dessubstancialização do sujeito cartesiano em Malebranche
DOI:
https://doi.org/10.48075/ra.v11i3.32600Resumo
Pretendemos mostrar que na crítica de Malebranche ao racionalismo de Descartes encontram-se os pressupostos de uma primeira refutação do idealismo problemático cartesiano. Ao dizer que o sujeito de conhecimento é, necessariamente, um sujeito receptivo e vinculado às percepções sensíveis, Malebranche assenta o fundamento do sujeito cognitivo no pressuposto transcendente (Deus), por não aceitar que o ser pudesse se tornar objeto da ciência. De forma secundária, delinearemos um importante precedente através do mesmo pressuposto transcendente (Deus) fundador do sujeito cognitivo: a necessidade de admitir a estrutura da sensibilidade humana, reconhecida posteriormente em Kant como “transcendental”. A avaliação feita da crítica de Malebranche às condições de possibilidades do conhecimento defendidas por Descartes, evidencia uma defesa da Psicologia Empírica da Alma. Isso porque ela apresenta as incongruências do idealismo material/problemático de Descartes, onde o intelecto humano aparece subordinado à experiência sensível por meio de seus pressupostos. Neste sentido, queremos demonstrar que na teoria do sujeito de Malebranche encontram-se objeções a Descartes que perfilam o caráter avant la lettre do “transcendental” no seu enquadramento crítico. Se o pensamento de Malebranche se caracteriza, no primeiro plano, como racionalista devido à defesa da tese da visão do espírito humano dos objetos inteligíveis em Deus, no segundo plano, ele se mostra dependente do intelecto divino e subordinado à experiência sensível. Sua refutação do idealismo material cartesiano é uma das teses centrais presentes em A Busca da Verdade (1674-75). Nela, o conteúdo crítico se filia à crítica de Kant ao cogito e à ideia de Alma cartesiana, em contraste com a refutação kantiana do idealismo material cartesiano. Assim, o objetivo geral deste trabalho é mostrar que o pensamento malebranchiano descobre a importância do sentido externo (forma pura do espaço, na terminologia kantiana) e o lugar de sua fundamentação um século antes da Crítica da Razão Pura (1781-1787). Para tal, adotamos o método imanente para verificar, nas obras de Malebranche e de Kant, as críticas à Psicologia racional de Descartes e suas consequências que acarretam na dessubstancialização do sujeito cartesiano, transformando-o depois com Kant em um sujeito transcendental.
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