A fronteira abissal no Oeste do Pará: Conflitos geoepistêmicos frente à implantação de grandes projetos espaciais
DOI:
https://doi.org/10.48075/amb.v3i1.27318Palavras-chave:
Fronteira abissal, Conflitos geoepistêmicos, Grandes projetos espaciais, Oeste do Pará, Amazônia.Resumo
A Amazônia enquanto “fronteira” pode ser entendida através da expansão geográfica do capital materializada na implantação de grandes projetos espaciais como portos, usinas hidrelétricas, estradas e as grandes extensões de terra vinculadas ao agronegócio. Contudo, diversas gentes resistem e existem apesar e mesmo contra tais projetos, seja pela manutenção de seu território, seja pela manutenção da própria vida: ribeirinhos, “indígenas”, quilombolas, trabalhadores rurais etc. Nossa mirada é sobre as lógicas espaciais em tensão entre esses dois desiguais grupos, o que implica dizer que, além de serem conflitos de territorialidades e ambientais, também são conflitos geoepistêmicos. Na primeira seção refletimos sobre a “fronteira do capital” e apresentamos a abordagem de uma “fronteira abissal” para dar conta de tais lógicas espaciais em tensão. Após, contextualizamos o oeste do Pará, mais precisamente a região que tem Santarém como cidade principal, no que se refere à implantação dos grandes projetos espaciais, destacando o caso do “Porto do Maicá” e seu possível avanço sobre territorialidades ribeirinhas e quilombolas. A seguir, nos aprofundamos no caso da autodemarcação da Terra Indígena Munduruku no Planalto Santareno, e em como tal território é ameaçado pela expansão do agronegócio. Relacionamos, na seção seguinte, os conflitos geoepistêmicos a partir do contexto da contemporânea encruzilhada civilizatória com a necessidade de compreensão do sentido de autonomia que diversos povos trazem para enfrentar a fronteira abissal. Por fim, arrematamos defendendo a importância da ideia de fronteira abissal na análise dos conflitos geoepistêmicos presentes no oeste do Pará em particular e, talvez, na Amazônia em geral.
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- FIGURA 1: Mapa de localização de municípios selecionados no oeste do Pará.
- Figura 2: Porto da Cargill localizado na orla da cidade de Santarém
- FIGURA 3: Localização da área pretendida para instalação do Porto da EMBRAPS
- Figura 4: composição de fotografias da área a ser atingida pela implantação do “Porto do Maicá”
- FIGURA 5: Mapa de autodemarcação da Terra Indígena Munduruku Planalto e sua localização no município de Santarém e no estado do Pará.
- Figura 6: Composição de fotografias da comunidade Açaizal
- Figura 7: Esquema geo-gráfico da espacialidade da comunidade açaizal
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