O controle da informação, o colonialismo de dados e a desobediência epistêmica como forma de insurgência

Autores

  • Gabriel Pedro Moreira Damasceno Centro Universitário FIPMoc e Centro Universitário FUNORTE, Doutor em Direito Público pela UNISINOS, e-mail: gpmdamasceno@hotmail.com https://orcid.org/0000-0002-7742-3891
  • Giuseppe Angeli Neto Pesquisador e Advogado atuante na área do Direito Privado. Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, mestrando em Direito pela UFMG, e-mail: giuseppeangeli@hotmail.com https://orcid.org/0000-0001-5985-5458

DOI:

https://doi.org/10.48075/csar.v23i43.29078

Palavras-chave:

Colonialidade de Dados. Cultura de Vigilância. Plataformas Digitais. Desobediência Epistêmica. Insurgência.

Resumo

Desde o período colonial, o controle da informação é um mecanismo utilizado pelo poder hegemônico como meio de compreender seu território, seus governados e seus recursos em geral. Com o avanço da tecnologia e a expansão do sistema capitalista (que tem no colonialismo uma de suas armas mais potentes), o domínio dos meios de gerência da informação se tornou cada vez mais essencial para a manutenção do status quo colonial. Com isso, surgiram tecnologias para a extração dos dados de uso das plataformas digitais (como redes sociais) e seu posterior processamento, que ficou popularmente conhecido como Big Data. De tal modo, o presente artigo teve a intenção de investigar como os novos meios de mediação da informação têm servido para intensificar a dominação dos indivíduos colonizados por meio da manipulação da vontade humana, entendendo o papel da Colonialidade de Dados enquanto ferramenta de dominação dos indivíduos e buscando alternativas ao modelo colonial de poder. Através de uma pesquisa bibliográfica e documental, analisadas através da ótica fornecida pelo diálogo entre as TWAIL e as teorias decoloniais, identificou-se que, para se contrapor aos mecanismos de vigilância criados pelos Estados e pelas empresas transnacionais de tecnologia, é possível que os indivíduos, por meio de processos de desobediência epistêmica, se utilizem de ferramentas criadas pelo poder colonizador para romper com os meios de controle e opressão do sistema capitalista.

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Publicado

15-12-2022

Como Citar

DAMASCENO, G. P. M.; ANGELI NETO, G. O controle da informação, o colonialismo de dados e a desobediência epistêmica como forma de insurgência. Ciências Sociais Aplicadas em Revista, [S. l.], v. 23, n. 43, p. 153–169, 2022. DOI: 10.48075/csar.v23i43.29078. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/csaemrevista/article/view/29078. Acesso em: 20 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos de Administração, Ciências Contábeis e Direito (Interdisciplinar)