Respeitar a “natureza” da criança versus a ausência de natureza e o estabelecer de uma segunda “natureza”

Autores

  • Jenerton Arlan Schütz

Palavras-chave:

Educação Escolar; Infância; Pedagogia da Infância.

Resumo

O escrito tematiza a Pedagogia da Infância, perspectiva pedagógica que assume a premissa de que os processos pedagógicos de aprendizagem devem respeitar a natureza da criança e as suas manifestações espontâneas (sem interditos). Num primeiro momento, com base em revisão bibliográfica, apresentam-se os elementos basilares da Pedagogia da Infância, para, num segundo momento, como contraponto, tematizar-se a especificidade da condição humana, condição está que é marcada pela ausência de natureza e a necessidade de se estabelecer o que poderíamos denominar de uma segunda natureza. Pois, diferentemente dos outros animais, que já têm a sua existência garantida pela natureza e só necessitam se adaptar a ela, os humanos precisam adaptar a natureza a si, e constituem-se humanos pelo fato de produzirem continuamente a própria existência para além da natureza (segunda natureza). Ademais, trata-se de demarcar, a partir de revisão bibliográfica, a própria pedagogia, que, por conseguinte, sempre se constitui como um ato intencional, no conhecimento elaborado e não espontâneo; no legado produzido histórica e coletivamente na intersubjetividade humana.

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Publicado

03-04-2024

Como Citar

ARLAN SCHÜTZ, J. Respeitar a “natureza” da criança versus a ausência de natureza e o estabelecer de uma segunda “natureza”. Espaço Plural, [S. l.], v. 19, n. 39, 2024. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/espacoplural/article/view/33123. Acesso em: 30 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos