Yves Lacoste em Argel:

afinidades eletivas e a descoberta da Obra de Ibn Khaldun

Resumo

Analisa a trajetória do geógrafo Yves Lacoste até o momento da descoberta da obra do historiador magrebino Ibn Khaldun (1332-1406). Entendemos que as situações existenciais pelas quais Lacoste atravessou na Argélia marcaram profundamente a constituição de suas obras. Em razão disso, optamos por analisar uma parcela da trajetória lacosteana pelo prisma das afinidades eletivas (SOUSA NETO, 2021). Nesse sentido, a geografia histórica do capitalismo – especialmente aquela da descolonização francesa em África – imprime na trajetória geográfica de Yves Lacoste um cariz anticolonial. Tal anticolonialidade não se deveu apenas à formação territorial capitalista no Magrebe, mas também àquelas afinidades [de classe] eleitas subjetivamente pelo geógrafo em tela: J. Dresch (1905-1994), P. George (1909-2006) e Sadek Hadjeres – todos foram em algum momento membros do Partido Comunista, seja o francês ou o argelino. A princípio, um dos principais resultados que a pesquisa permitiu apontar é que a descoberta da obra khalduniana desvia a vocação geomorfológica de Lacoste para os problemas do Terceiro Mundo. Além disso, quando Khaldun esclarece a situação magrebina no século XIV ajuda o geógrafo na compreensão do dramático problema do século XX: o subdesenvolvimento.