Os discos eram como os livros: discursos fonográficos e a construção de uma fonografia institucional no Brasil dos anos 1930

Autores

DOI:

https://doi.org/10.36449/rth.v25i2.25390
Agências de fomento
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

Palavras-chave:

Fonografia. Disco fonográfico. Tecnologia. Discoteca pública. Música

Resumo

Esse artigo tem como objetivo compreender os discos fonográficos a partir do rastreamento de grupos que buscavam traçar uma fronteira de legitimação em torno da fonografia no Brasil do início dos anos 1930. Para isso, procuraremos enfatizar o caráter histórico desse artefato tecnológico destacando os esforços ligados à construção de seu reconhecimento social e sua recepção entre músicos institucionalizados, intelectuais e outros entusiastas de seu uso “sério”, oficial, baseado em um investimento público. Em geral, tratava-se de agentes culturais que tradicionalmente detinham o monopólio da divulgação e preservação de vozes e sons e passaram a ver sua exclusividade esvanecer em função das novas possibilidades franqueadas pela nova mídia. O empenho deles, assim, se associava à tentativa de se inserirem em um renovado mundo fonográfico, alicerçando-o firmemente na ciência e na cultura escrita.

Referências

ADORNO, Theodor. On the fetish-character in music. In: LEPPERT, Richard (Org.). Essays on music. Berkeley; Los Angeles: University of California Press, 2002.

ANDRADE, Mário de. Discos e fonógrafos. In: Arte, Diário Nacional, São Paulo, p. 2, 11 mar. 1928b.

ANDRADE, Mário de. O Fonógrafo. In: Arte, Diário Nacional, São Paulo, p. 2, 24 fev. 1928a.

AZEVEDO, Antonio Vicente de. Pela cultura. Revista do Arquivo Municipal, São Paulo, v. 28, p. 287-306, out. 1936.

BARBOSA, Orestes. Samba: sua história, seus poetas, seus músicos e seus cantores. Rio de Janeiro: Livraria Educadora, 1933.

BILAC, Olavo. Chronica. Kosmos, Rio de Janeiro, n. 9, p. 3, set. 1907.

BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet. 3 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

CALIL, Carlos Augusto; PENTEADO, Flávio Rodrigo (Org.). Me esqueci completamente de mim, sou um departamento de cultura. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015.

CAROZZE, Valquíria Maroti. A menina boba e a discoteca. 2012. 370 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2014.

CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel; Rio de Janeiro: Bertrand, 1988.

Correio da Manhã (Rio de Janeiro): Seção “Música em discos” (1928-1935); Coluna “Discando” (1930-1936); Inquérito “Os discos e os músicos” (1931).

DIAS, Marcia Tosta. Os donos da voz: indústria fonográfica brasileira e a mundialização da cultura. São Paulo: Boitempo, 2000.

FRANCESCHI, Humberto Moraes. A Casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro: Sarapuí, 2002.

GÓES, Custódio Fernandes. O nosso Hino Nacional deturpado em discos de gramofone. In: Correio musical, Correio da Manhã, Rio de Janeiro, p. 7, 7 nov. 1930.

GONZÁLEZ, Juliana Pérez. Da música folclórica à música mecânica: Mário de Andrade e o conceito de “música popular”. São Paulo: Intermeios, 2015.

GOODY, Jack. The power of the written tradition. Washington; London: Smithsonian Institution, 2000.

GRAMOFOMANIA. A Noite, Rio de Janeiro, p. 7, 6 abril 1931.

HOCHMAN, Brian. Savage preservation: the ethnographic origins of modern media technology. Minneapolis: University of Minnesota, 2014.

Imprensa periódica (geral)

JOTAENNE. Gatafunhos… Fon Fon, Rio de Janeiro, ano 10, n. 2, p. 36, 8 jan. 1916.

JRD. A educação pelo fonógrafo. O Paiz, Rio de Janeiro, p. 7, 13 abril 1930.

KATZ, Mark. Capturing sound: how technology has changed music. California; London: University of California Press, 2010.

KITTLER, Friedrich. A verdade do mundo técnico: ensaios sobre a genealogia da atualidade. Rio de Janeiro: Contraponto, 2017.

MORAES, José Geraldo Vinci de; MACHADO, Cacá. Escutando o Brasil. In: CARVALHO, Fábio Almeida de; EUGÊNIO, João Kennedy (Org.). Interpretações do Brasil. Rio de Janeiro: E-papers, 2014.

MORELLI, Rita de Cássia Lahoz. Indústria fonográfica: um estudo antropológico. Campinas: Unicamp, 2009.

MORTON JR, David L. Sound recording: the life history of technology. Baltimore: The John Hopkins University, 2006.

MOYA, Fernanda Nunes. A Discoteca Pública Municipal de São Paulo: um projeto modernista para a música nacional. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011.

NAPOLITANO, Marcos. A síncope das ideias: a questão da tradição na música popular brasileira. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2007.

O Paiz (Rio de Janeiro): Seção “Discos e máquinas falantes” (1926-1930).

ONG, Walter. Oralidade e cultura escrita: a tecnologização da palavra. São Paulo: Papirus, 1998.

ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1999.

PEREIRA, Avelino Romero. Música, sociedade e política: Alberto Nepomuceno e a República Musical. Rio de Janeiro: UFRJ, 2007.

RUBIM, Antonio Albino Canelas. Políticas culturais no Brasil: tristes tradições, enormes desafios. In: RUBIM, Antonio Albino Canelas (Org.). Políticas culturais no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2007.

SAMPIETRI, C. E. A Discoteca Pública Municipal de São Paulo (1935-1945). 2009. 209 f. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

STERNE, Jonathan. The audible past: cultural origins of sound reproduction. Durham: Duke University, 2003.

TINHORÃO, José Ramos. Música popular: do gramofone ao rádio e TV. 2 ed. São Paulo: Editora 34, 2014.

VELLOSO, Mônica Pimenta. As distintas retóricas do moderno. In: O moderno em revistas: representações do Rio de Janeiro de 1890 a 1930. Rio de Janeiro: Garamond, 2010.

VICENTE, Eduardo. Da vitrola ao IPOD: uma história da indústria fonográfica no Brasil. São Paulo: Alameda, 2014.

WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

Downloads

Publicado

09-11-2021

Como Citar

DE OLIVEIRA, D. da S. Os discos eram como os livros: discursos fonográficos e a construção de uma fonografia institucional no Brasil dos anos 1930. Tempos Históricos, [S. l.], v. 25, n. 2, p. 5–39, 2021. DOI: 10.36449/rth.v25i2.25390. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/temposhistoricos/article/view/25390. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos