Entre o Futuro Passado: os prognósticos sobre o negro no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1839-1869)
DOI:
https://doi.org/10.36449/rth.v27i1.30818Palavras-chave:
História da historiografia; IHGB; Negro.Resumo
O intuito neste artigo é analisar um campo discursivo sobre o negro que procura, por meio de prognósticos, ou seja, textos que articulam passado e presente para projetar ações para o futuro, convencer os nacionais que além de a presença negra ser um “entrave” para o desenvolvimento nacional, também precisa ser “compensada” com a importação de imigrantes europeus brancos. Para tanto, observaremos três prognósticos publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro no século XIX, textos que tem uma temporalidade própria das delimitações da historiografia moderna, sempre em diálogo com o antigo regime de historicidade e que visam fabricar uma nacionalidade, persuadir nacionais e estrangeiros de que mais da metade da população do país foi ausente de sua formação para defender o branqueamento e um futuro passado cada vez mais branco.
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