Ficção histórica e o impulso arquivístico em história natural da ditadura e o material humano

Resumo

O artigo tenciona analisar duas ficções históricas, publicadas no século XXI, investigando a relação entre Literatura, História e documento. Particular atenção será dada ao tema do arquivo, especialmente pela leitura de alguns ensaios das artes visuais que tematizaram esse “impulso arquivístico”. A incorporação do arquivo ocorre pelo uso de fotografias e anotações de processo de investigação ao longo da narrativa, o que termina por levá-las à desestabilização de seu estatuto ficcional, porém os autores não abandonam o uso da nomenclatura romance para cada um de seus empreendimentos. História Natural da Ditadura abusa do recurso à fotografia, já O Material Humano extrapola na catalogação de nomes e no diário de investigação de sua pesquisa no arquivo. Ambas enfatizam o tema do desaparecimento do corpo e reiteram o hibridismo da composição do relato. Argumento que ambas são mais complexas do que a simples vinculação entre esses romances e o mimetismo do real, já que a utilização do documento não acontece apenas como prova, típico das referências do campo dos saberes da História profissional. Por fim, o artigo tenciona associar a incorporação de documentos nos relatos aos estudos do trauma, e seus limites, enquanto possibilidade analítica.