Democracia sequestrada?

O topos da "maioria" e a viabilização do Estado de exceção na transição brasileira de 1945

Auteurs-es

  • Cintya Chaves Universidade Estadual do Ceará

DOI :

https://doi.org/10.36449/rth.v28i1.32700

Mots-clés :

Democracia, Estado de Exceção, Transição Política de 1946

Résumé

As transições políticas não são instantâneas e não necessariamente automatizam a passagem para a democracia. No Brasil, o Estado de exceção como “paradigma de governo” (AGAMBEN, 2004), sintetiza bem a atuação do presidente Eurico Gaspar Dutra em 1946. A forte repressão policial aos trabalhadores grevistas, a perseguição ao partido comunista e os 515 decretos leis publicados no Diário Oficial de 1946 pelo presidente demonstram isso. Assim, refletiremos nesse texto como o Partido Social Democrático (PSD), tido pela historiografia como partido “fiador da estabilidade política” de nossa primeira experiência democrática (HIPPÓLITO, 1985, p. 22), articulou um conceito de democracia compatível com a continuidade do regime de Exceção imposto pelo Estado Novo.

Biographie de l'auteur-e

Cintya Chaves, Universidade Estadual do Ceará

Professora Assistente da Universidade Estadual do Ceará, campus de Limoeiro do Norte. Doutora em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Ceará.

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10-07-2024

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CHAVES, C. Democracia sequestrada? : O topos da "maioria" e a viabilização do Estado de exceção na transição brasileira de 1945. Tempos Históricos, [S. l.], v. 28, n. 1, p. 252–281, 2024. DOI: 10.36449/rth.v28i1.32700. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/temposhistoricos/article/view/32700. Acesso em: 26 juill. 2025.

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