DES-MEDEIA – O LASTRO CULTURAL E A RESSIGNIFICAÇÃO DO MITO
Palavras-chave:
Medeia, Des-medeia, Teatro Essencial, IntertextualidadeResumo
Vendo no resgate consciente de um discurso passado, tomado por canônico, a possibilidade da reconstrução de sentidos e exploração de “novas” estéticas, este trabalho objetiva refletir sobre o mito e o lastro cultural na obra Des-medeia (1995), de Denise Stoklos. No projeto estético desta dramaturga, o mito de Medeia é resgatado intertextualmente para ser desconstruído, fragmentado e reconstruído segundo novas significações. Se conforme a perspectiva grega politeísta o mito engendra-se como denotação do real, no contexto contemporâneo, conforme suas releituras e sua permanência na memória coletiva, fabuloso, é tomado como ficção, como metáfora da realidade. Na obra de Stoklos, todavia, erigido de acordo com novas molduras narrativas, o mito fabuloso é tomado como metáfora do modo como a sociedade ocidental se relacionou com as questões que formam o conteúdo narrativo do mito, em sua maioria, de tonalidade falocêntrica, tais como a traição, a violência, e as manifestações do caráter feminino. Assim, o mímema, a partir da indicação do mito como referente a ser desconstruído, dirige o público/leitor a questões essenciais que se referem não só à narrativa, mas ao modo como essa narrativa foi assimilada. O modo de assimilação ou representação, pois, também passa pelo processo da desconstrução, que é, em última análise, a desconstrução – reflexiva – do próprio sujeito (coletivo) que as operou. Na desconstrução do mito, pois, temos uma des-Medeia que atua no sentido de inverter o movimento trágico ao remodelar aquilo que se apreende como remetente à condição humana, haja vista que a obra de Denise Stoklos, que traz ao lado de um metafórico retrato do humano e do social uma proposta para o humano e para o social, por assim ser, parece agenciar o apaziguamento entre o individual e o coletivo, cerne da antinomia trágica presente no contexto contemporâneo. Se a esperança reside, no mais podemos falar de uma situação trágica, baseada no conflito histórico entre o indivíduo e as manifestações do social, mas que pode esvair-se tão logo haja do(s) indivíduo(s) uma atitude positiva em direção ao amor de que nos fala Stoklos.
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