O Grito das Imagens em Corpos que Sangram
Resumo
O objeto discursivo tomado em análise neste artigo configura-se por um fragmento cênico-artístico do longa-metragem O som ao redor (2012), de Kleber Mendonça Filho, pela mobilização do dispositivo analítico, tecido nos entremeios de Pêcheux, Lacan e Didi-Huberman, que toma o artístico como rasgadura da imagem (Lara, 2022, 2023a). Tal como uma tela artística viva, esse fragmento vai sendo pintado e descolorido na própria movência da imagem material que retorna tantas outras nos entrecruzamos da memória (Pêcheux, 2007), da memória social e da memória do corpo (Leandro-Ferreira, 2013), por fissuras/rasgaduras (Didi-Huberman, 2013) tecidas pelo artístico. O gesto de olhar para as minúcias nesse trabalho do artístico como materialização do jogo poético-político é o que possibilita analisar o grito enodado ao silêncio no funcionamento discursivo das imagens fílmicas, nas quais o esquecimento emerge como estilhaços que fissuram a memória na atualização do dizer. Como o grito retorna imagens que gritam e fazem gritar imagens mudas/mutadas no enodar de corpos (des)encontrados? No movimento da imagem histórico-bíblica do “Lavar as mãos.... (Mãos) sujas de sangue...” em funcionamento no corpus de análise, o efeito metafórico do jorrar água que verte sangue tensiona o social em suas contradições. Assim a imagem “visível” se abre à “imagem opaca e muda” (Pêcheux, 2007, p. 55) pelo trabalho do artístico como rasgadura, sendo (des)manchada por corpos que sangram. A mobilização desse dispositivo analítico, como gesto do analista, dá a ver que o artístico é estruturante da arte, logo, aberto à deriva, à alteridade, na inscrição material do real do discurso como resistência.
Palavras-chave: Artístico como rasgadura. Imagem opaca. Esquecimento na memória.
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