POR DENTRO DA ESCOLA: CLASSIFICAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E ETHOS ESCOLAR
DOI :
https://doi.org/10.17648/educare.v9i17.10306Résumé
RESUMO: Nas últimas décadas, no plano da cobertura e do acesso aos diferentes níveis de ensino, são perceptíveis as melhorias ocorridas no sistema educacional brasileiro. Todavia ainda há muito por fazer no que concerne à qualidade do ensino ofertado, à regularização dos fluxos escolares, à redução da defasagem idade/série e ao aumento das taxas de conclusão. Esse trabalho buscou contribuir para esse campo por meio de uma etnografia em uma escola pública estadual de ensino médio na cidade do Rio de Janeiro. Foi analisado seu cotidiano na tentativa de compreender como são construídas as trajetórias escolares dos alunos. Desde o clássico “Algumas formas primitivas de classificação”, os sistemas de classificação são objetos centrais aos antropólogos. As formas de classificação escolar, como as formas primitivas de classificação descritas por Durkheim e Mauss, são transmitidas na (e pela) prática. São organizadas de acordo com o modelo de cada sociedade, tratando-se, portanto, de representações coletivas, produtos de uma intensa cooperação no tempo e no espaço. Esse caráter social é que permite compreender de onde vem a necessidade de elaboração das categorias classificatórias. Essas categorias não servem apenas para reunir elementos em grupos distintos, mas também para manter o coletivo e para tornar inteligíveis as relações. Na escola, acrescenta-se ainda que a “cultura de gestão” operante será responsável por marcar ou não certos elementos e, assim, moldar o que deve ser valorizado. De um modo geral, as categorias classificatórias relacionadas com o comportamento dos alunos eram as mais significativas – frequência nas aulas, participação e realização das atividades e trabalhos –. Em seguida, estavam as categorias relacionadas à aparência física, ao estilo de vida e à origem social. Essas por sua vez estavam inseridas no plano moral e eram utilizadas pelos professores como justificativa para o comportamento dos alunos. Assim, ao fim e ao cabo, as relações eram organizadas a partir de critérios de aproximação e distanciamento. Na prática, o sistema classificatório era a base para a organização escolar e, por meio de rótulos e classificações, o desempenho e a trajetória dos alunos eram desenhados.
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